– Kina, essa pérola é uma coisa maligne. Vamos destruí-la antes que ela nos destrua. Vamos esmagá-la entre duas pedras. Vamos… vamos atirá-la ao mar de onde ela veio. Kino, é uma coisa maligna, é uma coisa maligna!
E enquanto ela falava, a luz voltou aos olhos de Kino, e eles brilharam ferozmente, e os seus músculos retesaram-se e a sua vontade endureceu.
– Não – disse. – Eu vou lutar contra essa coisa. Eu hei-de ganhar. Havemos de ter a nossa oportunidade. – O seu punho fechado caiu sobre a esteira. – Ninguém vai roubar-nos a nossa boa sorte – disse.
Depois os seus olhos suavizaram-se e acariciou o ombro de Juana.
– Acredita – disse ele. – Eu sou um homem.
O seu rosto tomou uma expressão astuciosa.
– De manhã metemo-nos na nossa canoa e vamos atravessar o mar e as montanhas até à capital, tu e eu. Não vamos ser enganados. Eu sou um homem.
– Kino – disse ela com voz rouca. – Tenho medo. Um homem pode ser morto… Vamor atirar a pérola ao mar.
– Cala-te – disse ele ferozmente. – Eu sou um homem. Cala-te. – E ela ficou silenciosa, porque ele falara no tom de quem dava uma ordem. – Vamos dormir um pouco – disse ele. – Quando romper o dia, partimos. Tens medo de ir comigo?
– Não, meu marido.
Os olhos dele fitaram-na com ternura e carinho, e ele acariciou-lhe o rosto.
– Vamos dormir um pouco – disse.
Este trecho termina o quarto capitulo de uma das obras que valeu o prémio nobel da literatura a John Steinbeck. Esta em particular, A pérola, é baseada num conto popular mexicano, mas é também uma obra, como a generalidade das obras deste autor, a estória de como uma grande pérola foi encontrada, mas também de como se perdeu.
Mas é acima de tudo a história de como uma famila passou por este encontro e por este desencontro, da solideriedade de uma mulher (Juana), um pobre pescador indío (Kino) e o filho de ambos (Coyotito).
Trata-se de um livro que me foi oferecido ainda em tenra idade, que mais tarde li por obrigação na escola, mas que acabei por ler mais vezes depois disso. Trata-se da única obra do autor que já li, e quando penso nisso não consigo perceber porquê.
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