A pérola
classicos / October 23, 2010

– Kina, essa pérola é uma coisa maligne. Vamos destruí-la antes que ela nos destrua. Vamos esmagá-la entre duas pedras. Vamos… vamos atirá-la ao mar de onde ela veio. Kino, é uma coisa maligna, é uma coisa maligna! E enquanto ela falava, a luz voltou aos olhos de Kino, e eles brilharam ferozmente, e os seus músculos retesaram-se e a sua vontade endureceu. – Não – disse. – Eu vou lutar contra essa coisa. Eu hei-de ganhar. Havemos de ter a nossa oportunidade. – O seu punho fechado caiu sobre a esteira. – Ninguém vai roubar-nos a nossa boa sorte – disse. Depois os seus olhos suavizaram-se e acariciou o ombro de Juana. – Acredita – disse ele. – Eu sou um homem. O seu rosto tomou uma expressão astuciosa. – De manhã metemo-nos na nossa canoa e vamos atravessar o mar e as montanhas até à capital, tu e eu. Não vamos ser enganados. Eu sou um homem. – Kino – disse ela com voz rouca. – Tenho medo. Um homem pode ser morto… Vamor atirar a pérola ao mar. – Cala-te – disse ele ferozmente. – Eu sou um homem. Cala-te. – E ela ficou silenciosa, porque ele…

Á chuva para a Cabana
classicos / October 23, 2010

Á pagina tantas, escreve o autor: Ele corria veloz, seguindo em direcção à cabana, não gostava da chuva. Ela avançava mais devagar, enquanto ia apanhando uma molhada de miosótis e campainhas, corria de em quando e ficava a vê-lo fugir dela. Quando chegou à cabana com as flores, ofegante, ele já tinha acendido a lareira e os ramos delgados crepitavam. Os seios pontiaguados erguiam-se e baixavam. Tinha o cabelo colado, o rosto congestionado e o corpo brilhava e gotejava. Com os olhos muito abertos, e sem fôlego, a cabeça pequena molhada, as ancas maciças, a pingar, cândidas, parecia outra pessoa. Ele pegou num velho lençol e pôs-se a enxugá-la. Ela não se mexia, parecia uma criança. Depois enxugou-se e fechou a porta. Da lareira irrompiam chamas. ela envolveu a cabeça numa ponta do lençol e limpou o cabelo molhado. Poderia ser o inicio de uma cena escaldande num qualquer romance, mas na realidade trata-se de um clássico. Um clássico que tenho que reler, pois admito, apesar de me lembrar da história na sua generalidade, existem muito pormenores que já me escaparam. Afinal de contas já lá vão muitos anos. E então, já adivinharam de que clássico se trata? Ainda não?…