– Kina, essa pérola é uma coisa maligne. Vamos destruí-la antes que ela nos destrua. Vamos esmagá-la entre duas pedras. Vamos… vamos atirá-la ao mar de onde ela veio. Kino, é uma coisa maligna, é uma coisa maligna! E enquanto ela falava, a luz voltou aos olhos de Kino, e eles brilharam ferozmente, e os seus músculos retesaram-se e a sua vontade endureceu. – Não – disse. – Eu vou lutar contra essa coisa. Eu hei-de ganhar. Havemos de ter a nossa oportunidade. – O seu punho fechado caiu sobre a esteira. – Ninguém vai roubar-nos a nossa boa sorte – disse. Depois os seus olhos suavizaram-se e acariciou o ombro de Juana. – Acredita – disse ele. – Eu sou um homem. O seu rosto tomou uma expressão astuciosa. – De manhã metemo-nos na nossa canoa e vamos atravessar o mar e as montanhas até à capital, tu e eu. Não vamos ser enganados. Eu sou um homem. – Kino – disse ela com voz rouca. – Tenho medo. Um homem pode ser morto… Vamor atirar a pérola ao mar. – Cala-te – disse ele ferozmente. – Eu sou um homem. Cala-te. – E ela ficou silenciosa, porque ele…
Passadas duas semanas era ela: «Querido, sou eu. Deixei ficar o carregador no norte e tenho tido imenso que fazer. Não estás zangado com o bebé, pois não?» Eu não consegui dizer nada, não tinha nada para dizer, doía-me demasiado. E ela continuou. «Está tudo aqui a falar ao mesmo tempo. Posso falar mais tarde? Então até já, amor.» Nunca mais falou. Era assim que em 1999 Pedro Paixão terminava um dos seus contos. Não sei porque é um escritor que gosto de ler, para perceber como escrevo bem. É que apesar de tudo, normalmente as pessoas conseguem perceber o que escrevo. Este gajo é professor catedrático, mas 90% das vezes eu ficaria horas a tentar perceber o que ele quer dizer, e onde quer chegar com as porras que escreve. E ó despois os fins são sempre assim. O gajo deve ter um problema qualquer com mulheres. Parece que todas o abandonam. O livro tem o mesmo nome do conto, Amor Portátil, e foi editado em 1999 pela Editora Cotovia.