A Lua de Joana

October 23, 2010

Lisboa, 27 de Desembro de 1992

Querida Marta,

Hoje de manhã, o Diogo apareceu-me cá em casa para me trazer um presente! Fiquei radiante. Nunca pensei que se lembrasse de mim. É uma caixinha de música toda branca (eu tinha-lhe falado do meu quarto) com um pássaro em cima, também branco. É lindissima! Até fiquei comovida! Agradeci-lhe e fiquei tão embasbacada que ele riu-se e disse que não era nada de especial e que só queria dizer que continuava a ser muito meu amigo. Dei-lhe um beijo tão ruidoso que se deve ter ouvido no prédio inteiro. Convidei-o para almoçar cá em casa, porque o Pré-histórico está em casa de um amigo. Aceitou e estivemos os dois imenso tempo a conversar. Quis falar de ti, mas achei que o ia entristecer, de maneira que falámos de outras coisas. Só saiu de cá às cinco horas. Foi o máximo!

Penso que vou fazer uma aguarela para dar ao teu irmão. Ao contrário da minha mãe, tenho a certeza que ele vai gostar.

Um beijo da,

Joana

P.S. Telefonei ao João Pedro a agradecer o livro. Ficou histérico: «Ainda bem que gramaste, Joana. Curti bué escolher um livro para ti! Fixe que tivesses gostado!» E eu nem lhe disse se tinha lido…

Marta era a melhor amiga de Joana, e morreu de overdose. Joana era a melhor aluna da turma, mas embrulhou-se repetidamente no rasto deixado pela amiga. E acaba por morrer da mesma forma antes do pai tirar o relógio, idêntico aos muitos que lhe oferecia repetidamente nos anos e no natal.

É um livro de Maria Teresa Maia Gonzalez, acerca dos pequenos sinais que aqueles que rodeiam um potencial toxicodependente podem perceber, mas preferem muitas vezes ignorar, um livro acerca de amigos que antes não fossem e acerca dos caminhos que se escolhem nos piores momentos.

É um livro que me tocou profundamente numa epóca que não foi propriamente simples para mim.

É um livro que emprestei e não voltou por repetidas vezes, um livro que ofereci a mais do que uma pessoa, e sei que foi lido, um livro que comprei e recomprei, e que finalmente consegui manter nas minhas estantes.

Um livro editado pela primeira vez em Outubro de 1994, que foi editado e re-editado, e que ainda conseguimos encontrar em muitas livrarias.

Um livro que vale mesmo a pena ler e dar a ler a qualquer adolescentes e a qualquer pai de adolescente.

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