Com o subtitulo Uma nova forma de conhecimento sob o titulo Os ensinamentos de D.Juan, este livro da autoria de Carlos Castaneda, e que um antigo chefe meu designou, bem na minha opinião, como um livro de chuto prá carola, é considerados por muitos um livro iniciático nas mais relevantes ciências esotéricas. Nesta edição das Publicações Europa-América, na colecção Millenium/New Age, pode ler-se na contra-capa: … sob a tutela de Don Juan, leva-nos por esse momento do crepúsculo, por essa fenda no universo entre o dia e a noite, até um mundo, não apenas distinto do nosso, mas de uma ordem de realidade inteiramente diferente… Ao longo do livro percebemos perfeitamente a natureza de outro mundo, ainda que possamos acreditar que esse mundo tem uma existência fora da imaginação alucinada dos intervenientes ou não. Na prática tudo passa pela colheita e cultivo de diversas plantas, mais ou menos naturais, mas todas elas bastante activas, neurológicamente falando. O livro, juntamente com Conversas com D. Juan, do mesmo autor, na mesma colecção, falam das aventuras do autor, guiado por D.Juan, um velho indio, nos rituais que envolvem o consumo de diversas plantas, desde os catos, peyote, até às Datura, falando-nos das sensações que essas plantas lhe provocam, e…
Lisboa, 27 de Desembro de 1992 Querida Marta, Hoje de manhã, o Diogo apareceu-me cá em casa para me trazer um presente! Fiquei radiante. Nunca pensei que se lembrasse de mim. É uma caixinha de música toda branca (eu tinha-lhe falado do meu quarto) com um pássaro em cima, também branco. É lindissima! Até fiquei comovida! Agradeci-lhe e fiquei tão embasbacada que ele riu-se e disse que não era nada de especial e que só queria dizer que continuava a ser muito meu amigo. Dei-lhe um beijo tão ruidoso que se deve ter ouvido no prédio inteiro. Convidei-o para almoçar cá em casa, porque o Pré-histórico está em casa de um amigo. Aceitou e estivemos os dois imenso tempo a conversar. Quis falar de ti, mas achei que o ia entristecer, de maneira que falámos de outras coisas. Só saiu de cá às cinco horas. Foi o máximo! Penso que vou fazer uma aguarela para dar ao teu irmão. Ao contrário da minha mãe, tenho a certeza que ele vai gostar. Um beijo da, Joana P.S. Telefonei ao João Pedro a agradecer o livro. Ficou histérico: «Ainda bem que gramaste, Joana. Curti bué escolher um livro para ti! Fixe que…
Escreve à páginas tantas, Luigi Pirandello: Loucuras, forçosamente No entanto, quero falar-lhes primeiro, sucintamente, das loucuras que comecei a fazer para descobrir todos os Moscarda que vivem nos meus conhecidos mais chegados e destruí-los um a um. Loucuras, forçosamente. Porque, como nunca tinha pensado em construir um Moscarda que consistisse, a meus olhos e por minha conta, numa maneira de ser que me parecesse distinguir-se como própria e específica de mim, compreende-se que não me era possível agir com uma qualquer coêrencia lógica. De tempos a tempos, tinha de me revelar o oposto daquele que eu era ou supunha ser para um outro dos meus conhecidos, depois de me ter esforçado por compreender a realidade que me tinham dado: uma realidade mesquinha, necessariamente, volúvel e quase inconsistente. No entanto, algum aspecto, algum sentido e algum valor devia ter para os outros, não só pelas minhas feições, fora da minha vista e da minha apreciação, mas também por muitas coisas em que até então nunca pensara. Pensar e sentir um ímpeto de feroz rebelião foi obra de um momento. Assim começa o capítulo 3 deste livro, em que Moscarda, o personagem-narrador desta aventura do autor italiano vai sucessivamente deconstruindo as imagens…
– Deixa-me mostrar-te como é realmente voar. – Como? – perguntou. – Descontrai-te e não tenhas medo – Disse ela. A sua mente ligou-se á dele, afastando Eragon do seu corpo. Eragon Lutou por um momento, mas depois cedeu o controlo. A sua visão ficou turva e ele deu consigo a ver pelos olhos de Saphira. Tudo estava distorcido: as cores tinham estranhos e exóticos matizes; agora, os azuis eram mais nítidos, enquanto os verdes e os vermelhos estavam mais apagados. Eragon tentou voltar a cabeça e o corpo, mas não conseguiu. Sentia-se como um fantasma que tinha escapado do éter. Alegria pura irradiava de Saphira à medida que subia pelos céus. Ela adorava esta liberdade para ir onde quizesse. Quando estavam bem acima do chão, ela olhou para Eragon. Ele viu-se como ela o via, agarrado a ela, com um olhar inexpressivo. Conseguia sentir o corpo dela tenso contra o ar, aproveitando as correntes para subir. Todos os seus músculos eram como os dele. ele sentiu a sua caúda balançar-se pelo ar como um leme gigante para corrigir a sua rota. Surpreendeu-o descobrir como ela dependia dele. Talvez não seja por acaso que Eragon, de Christopher Paolini nos chega tão facilmente, especialmente…
A árvore genealógica O rapazinho (o futuro Grande Maggid de Mezeritch) não tinha mais de cinco anos quando a casa paterna foi incendiada. Ao escutar os gritos e as lamentações de sua mãe, ele disse-lhe: – Porque choras tanto, mãe, por uma casa destruida? – Oh! Não é pela casa destruida que me sinto desolada – responde a mãe -, mas só porque perdemos a nossa árvore genealógica no meio do fogo. Uma árvore genealógica que remontava a Yohanan, que era o fabricante de sandálias e um dos mestres do Talmude! O rapaz olhou para ela e disse: – A árvore genealógica! Mas o que é isso, mãe? Eu vou fazer uma nova, que começará comigo! Este conto da tradição hassídica é um dos muitos que Jean-Louis Maunoury junto sob o titulo O Riso do Sonâmbulo. São mais três centenas de páginas, e não serão por certo muito menos os contos, numa obra fenomenal, com a qual se perdem facilmente algumas horas de bom entretendimento, com muito em que pensar pelo meio.
Urros vitoriosos explodiam do buraco atrás dela. Harry ficou especado, enquanto as pessoas começavam a gritar ao avistá-lo. Várias mãos puxaram-no para dentro da sala. – Ganhámos! – berrava Ron, saltando para a frente e brandindo a Taça prateada na direcção de Harry. – Ganhámos! Por quatrocentos e cinquenta contra cento e quarenta! Ganhámos! Harry olhou á volta e viu Ginny a correr para ele. Tinha no rosto um ar duro e ardente quando lhe lançou os braços ao pescoço. E, sem pensar, sem planear, sem se preocupar com o facto de estarem a ser observados por cinquenta pessoas, Harry beijou-a. Passados longos momentos – talvez tisesse sido meia hora, ou vários dias cheios de sol – separaram-se. A sala caíra em silêncio. Depois, ouviram-se vários assobios e um ataque generalizado de risinhos nervosos. Harry olhou por cima da cabeça de Ginny e viu Dean Thomas segurando um copo estilhaçado e Romilda Vane com ar de quem tinha vontade de lhe atirar com qualquer coisa. Hermione sorria, mas o olhar de Harry procurou Ron. Encontrou-o por fim, ainda agarrado à Taça e com a expressão de quem levara uma mocada na cabeça. Por uma fracção de segundo olharam um para…
«Quando ela tinha treze anos, o próprio pai levou-a à cidade para a meter num convento. Pararam num albergue do bairro Sain-Gervais, onde a ceia foi servida em pratos pintados, representado a história da menina de La Vallière. As legendas explicativas, esgarçadas aqui e ali pelos riscos feitos pelas facas glorificavam a religião, a delicadeza de sentimentos e as pompas da Corte.» A frase «a ceia foi servida em pratos pintados» provocou-lhe um sorriso fatigado: «Deram-lhes os pratos vazios? Deram-lhes a comer a história dessa La Vallière?» Que cínico! Julga-se à margem da leitura. Nada disso, a sua ironia acertou em cheio, pois os males simétricos dela e dele, resultavam disso: Emma era capaz de olhar um prato como um livro, e ele o livro como um prato. Assim escreve o autor à paginas tantas deste livro, neste capitulo sobre um rapaz que esforçadamente tenta fazer a ficha de leitura para a escola a estória de Emma Bovary (bem, talvez um dia vos fale também desse, mas não hoje)… Não chegamos a saber se o jovem consegue acabar o livro para fazer a ficha de leitura, ou se porventura a copiou de uma das colegas no dia seguinte antes da…
Á pagina tantas, escreve o autor: Ele corria veloz, seguindo em direcção à cabana, não gostava da chuva. Ela avançava mais devagar, enquanto ia apanhando uma molhada de miosótis e campainhas, corria de em quando e ficava a vê-lo fugir dela. Quando chegou à cabana com as flores, ofegante, ele já tinha acendido a lareira e os ramos delgados crepitavam. Os seios pontiaguados erguiam-se e baixavam. Tinha o cabelo colado, o rosto congestionado e o corpo brilhava e gotejava. Com os olhos muito abertos, e sem fôlego, a cabeça pequena molhada, as ancas maciças, a pingar, cândidas, parecia outra pessoa. Ele pegou num velho lençol e pôs-se a enxugá-la. Ela não se mexia, parecia uma criança. Depois enxugou-se e fechou a porta. Da lareira irrompiam chamas. ela envolveu a cabeça numa ponta do lençol e limpou o cabelo molhado. Poderia ser o inicio de uma cena escaldande num qualquer romance, mas na realidade trata-se de um clássico. Um clássico que tenho que reler, pois admito, apesar de me lembrar da história na sua generalidade, existem muito pormenores que já me escaparam. Afinal de contas já lá vão muitos anos. E então, já adivinharam de que clássico se trata? Ainda não?…
Passadas duas semanas era ela: «Querido, sou eu. Deixei ficar o carregador no norte e tenho tido imenso que fazer. Não estás zangado com o bebé, pois não?» Eu não consegui dizer nada, não tinha nada para dizer, doía-me demasiado. E ela continuou. «Está tudo aqui a falar ao mesmo tempo. Posso falar mais tarde? Então até já, amor.» Nunca mais falou. Era assim que em 1999 Pedro Paixão terminava um dos seus contos. Não sei porque é um escritor que gosto de ler, para perceber como escrevo bem. É que apesar de tudo, normalmente as pessoas conseguem perceber o que escrevo. Este gajo é professor catedrático, mas 90% das vezes eu ficaria horas a tentar perceber o que ele quer dizer, e onde quer chegar com as porras que escreve. E ó despois os fins são sempre assim. O gajo deve ter um problema qualquer com mulheres. Parece que todas o abandonam. O livro tem o mesmo nome do conto, Amor Portátil, e foi editado em 1999 pela Editora Cotovia.